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- 04/09/2015
- redacao
O evangelista Gilson Souza de Jesus, 33, precisou conhecer a escuridão da cegueira para começar a trilhar o caminho da luz. A perda da visão foi moeda de troca para continuar vivendo. Em 2010, quando fazia parte do mundo do crime, Gilson foi pego por traficantes rivais na rua Euzébio de Queiroz, bairro da Liberdade, e, sob a mira de pistolas e revólveres, ouviu a pergunta que começou a mudar a sua vida.
“‘Você quer morrer ou ficar cego?'”. Respondi que preferia ficar cego, e aí eles furaram meus olhos com uma faca”, lembra. Apesar do castigo cruel, Gilson acredita que Deus tocou no coração dos seus agressores para não matá-lo. Hoje, ele se diz uma nova criatura e dedica a vida a tentar convencer jovens e adultos a saírem do mundo do crime e das drogas. O ex-traficante e assaltante conta sua história de recuperação e prega o evangelho como forma de transformar a vida das pessoas.
Além do testemunho em igrejas evangélicas, ele integra o Grupo de Evangelização em Busca de Almas Perdidas (Gebap). “O terceiro domingo do mês é meu dia de pregação. Escolho uma comunidade onde a guerra do tráfico está acirrada e começo a pregar próximo às bocas de fumo”, diz. Para quem deseja se livrar da dependência química, Gilson oferece tratamento em centros de recuperação com que tem parcerias.
Provações
Quando teve os olhos furados, Gilson já tinha passado por muitas provações no mundo do crime. Em 2007, ficou encarcerado cinco meses no Presídio Salvador, após ser preso por roubo. Dois anos depois, sofreu uma tentativa de homicídio como punição de bandidos, por ter roubado no bairro onde morava, no Pero Vaz.
Ele levou um tiro nas costas e outro na mão, mas conseguiu fugir pelo telhado de casa. Ainda em 2009, voltou para o presídio, onde ficou por um ano, após ser preso por tráfico de drogas.
“Há um caminho que parece direito ao homem, mas o seu fim são os caminhos da morte”, cita Gilson o versículo bíblico que se adequa ao período de 14 anos em que esteve no mundo da criminalidade. Depois que teve os olhos arrancados, Gilson entrou em depressão, foi abandonado pela ex-mulher e tentou suicídio, mas diz ter encontrado forças no evangelho.
Gilson lembra que, aos 14 anos, se revoltou, após ver dois irmãos mortos durante uma operação das polícias Civil e Militar na avenida Peixe, Liberdade, em 1999.
Três anos antes, outro irmão havia sido morto por um grupo de extermínio, no largo da Central, no mesmo bairro. “Vi meus pais chorando e sofrendo muito. As mortes desestruturaram minha família. Como não tinha o entendimento, eu me revoltei e queria vingar meus irmãos. Comecei a usar droga. Mais tarde fui roubar e traficar”, relata.
Casado há dois anos, pai de três filhos – o caçula é do casamento atual -, Gilson se orgulha de sua nova vida. “Não devo mais nada à Justiça. Tenho minha família, faço minhas pregações e tenho o objetivo de tirar os jovens das drogas”, afirma. (A Tarde)
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