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- 27/10/2016
- redacao
Bruno Wendel (
)A presença da segunda maior organização criminosa do país já é uma realidade na Bahia. A facção carioca Comando Vermelho (CV) vem apostando no fornecimento de armas e drogas no mercado baiano, até então dominado pela maior facção do país, o Primeiro Comando da Capital (PCC), de origem paulista. E a região Sul do estado é a porta de entrada para a quadrilha carioca.
“Historicamente, existe sempre uma tentativa de entrada do CV, mas ainda não há uma consolidação, porque não há seguidores, diferente do PPC, que é mais organizado”, declarou o promotor Luciano Taques Ghignone, coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) do Ministério Público (MP-BA).
O fim do acordo de paz entre CV e PCC, refletido na morte de 22 pessoas em presídios pelo país na semana passada (ver ao lado), ligou o alerta na polícia baiana, que monitora os grupos. Segundo o promotor, que diz acompanhar a situação com cautela, “o monitoramento específico é realizado dentro das unidades prisionais pela Secretaria da Administração Penitenciária (Seap) e, fora delas, pela Secretaria da Segurança Pública através da Superintendência de Inteligência (SI)”.
“Quando a Seap percebe dentro dos presídios um clima diferente, começa a surgir alguma liderança, paralelo a isso, a SSP detecta o aumento de homicídios numa determinada área, essas informações são passadas ao MP-BA e a gente busca transferências de detentos”, detalhou o promotor.
O diretor do Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco), delegado Jorge Figueiredo, afirma que a Bahia nunca foi marcada pela rivalidade entre CV e PCC, mas confirma que a polícia tem acompanhado a movimentação dos grupos. “Aqui, verificamos a presença do PCC apenas como distribuidor (de drogas e armas), independente de qual seja o interessado. Os grupos locais têm mais força, firmando o PCC apenas como aliado no que se refere a fornecimento”, disse o diretor do Draco, ao garantir também que “a repressão vem sendo realizada de forma qualificada, através de análise criminal e dados de inteligência”.
HEGEMONIA EM XEQUE
O poderio financeiro do CV reverbera na sua expansão geográfica. À medida que as receitas da facção crescem, expandem-se também seus limites territoriais. Além do controle de parte das favelas cariocas, o CV está presente em sete estados – em todos divide com o PPC o controle do tráfico.
No entanto, na Bahia, o PCC atua praticamente sozinho, e se beneficia da distribuição para as quatro maiores quadrilhas locais: Caveira, Comando da Paz, Bonde do Maluco e Katiara. Porém, o CV vem atuando de forma independente, tentando conquistar a fatia do mercado já há algum tempo, principalmente no interior. “O CV não tem a habilidade do PCC, que é sistematizado. Para se estabelecer, teria que ter uma presença mais maciça. Tem ocorrências de tentativas que indicam a vinda do CV, principalmente na região Sul”, comentou Ghignone.
Para o sociólogo Luís Cláudio Lourenço, professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e especialista em institutos prisionais, a disputa armada entre as maiores facções não deve ocorrer na Bahia, ao menos de forma imediata. “Acredito que esses grandes distribuidores (CV e PCC) não tenham ainda interesse, porque estão esperando um outro momento, a consolidação de uma das quatro facções locais, pois os grupos estão em ebulição. Eles não vão desperdiçar recursos assim. Por enquanto, devem continuar fornecendo apenas drogas e armas, em vez de tentarem concentrar a hegemonia”, avaliou.
Facções na Bahia e seus líderes
PRISÕES
A Polícia Civil baiana tem apreendido drogas e armas e prendido integrantes do CV na Bahia, a exemplo de Luiz Carlos Gomes Jardim, o Queimado, capturado em Porto Seguro, litoral Sul, em novembro do ano passado. Chefe do tráfico em São Gonçalo, região metropolitana do Rio, Queimado estava na Bahia desde o começo de 2015 e a casa em que o criminoso foi encontrado havia sido alugada pelo valor de R$ 9 mil.
“O traficante buscou a Bahia como refúgio, local para ficar abrigado, de onde pretendia gerenciar o tráfico de drogas na localidade de São Gonçalo. Aqui na Bahia, procurava ter uma vida normal, passando-se como empresário. Não possuía vínculo com a criminalidade do estado”, afirmou Figueiredo, que em 2012, na época diretor do Departamento de Narcóticos (Denarc), já havia capturado Silvano Brito, o Irmão Metralha, outro traficante do CV foragido na Bahia.
Em setembro de 2014, integrantes do CV puseram uma bandeira da facção na localidade do Alto do Tapera, centro de Ilhéus, também no litoral Sul. À época, um grupo de pelo menos cinco homens armados fugiu ao tomar conhecimento de que seria realizada uma operação policial para prendê-los.
Para Jorge Figueiredo, do Draco, as prisões de integrantes do CV na Bahia não seriam um sinal claro de expansão do grupo no estado. “As prisões foram pontuais”, avaliou. “O que temos acompanhado aqui na Bahia é o aumento de números de crimes contra instituições financeiras patrocinadas por grupos ligados ao PCC”, acrescentou ele.
Seap diz estar ‘em alerta’ a situação nos presídios
O rompimento entre Comando Vermelho e o PCC, que ocasionou 22 mortes em presídios do Norte e do Centro-Oeste na última semana (ver acima), não pegou a Secretaria estadual da Administração Penitenciária e Ressocialização (Seap) de surpresa. Isso porque, segundo a assessoria da pasta, está “invariavelmente sempre em alerta” ao que acontece nas cadeias baianas.
Sobre o fim da aliança, o promotor Luciano Taques Ghignone, do Gaeco, disse não acreditar que possa se refletir na Bahia de forma imediata. “Ceará e Alagoas têm muitos internos dessas facções. Quando acontece uma desavença, explode lá. Não é o caso daqui, que temos poucos integrantes de fato do PCC e CV. O que pode gerar a longo tempo é uma mobilização das facções baianas em se posicionar a favor de um lado e do outro”, disse.
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