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- 22/02/2018
- redacao
Vítimas da inflação mais alta do mundo, 87% dos venezuelanos sobrevivem com uma renda abaixo da linha da pobreza e 61% estão no patamar da pobreza extrema.
As conclusões compõem um estudo divulgado nesta quarta-feira (21) pela Ucab (Universidade Católica Andrés Bello), uma das mais importantes da Venezuela, com dados aferidos no ano passado.
Em 2014, a primeira pesquisa Condições de Vida mostrou que 48,4% das pessoas não tinham renda para comprar a cesta básica no país —linha adotada pelo levantamento para delimitar a pobreza.
Naquela época, os que não tinham dinheiro nem sequer para adquirir os alimentos da cesta básica (pobreza extrema) eram 23,6%.
Quando questionados sobre alimentação, 80% dos entrevistados afirmaram ter comido menos nos três meses anteriores à pesquisa porque não havia víveres suficientes.
No Brasil, segundo o IBGE, 25,4% da população vive abaixo da linha de pobreza, ou seja, com renda familiar inferior a US$ 5,5 por dia, critério adotado pelo Banco Mundial. Desses, 6,5% estão em pobreza extrema (com até US$ 1,90 diário).
“A situação da pobreza pela renda disparou a tal ponto que praticamente toda a população está classificada como pobre”, afirma por telefone Anitza Freitez, diretora do Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais da Ucab.
Para separar melhor diferentes situações dentro da população, a pesquisa mediu a pobreza por mais duas metodologias. No método integrado da Cepal (braço da ONU para a América Latina), que mistura variáveis estruturais (necessidades básicas) e conjunturais (renda), o percentual é de 32,7% e se manteve estável desde 2015 (30%).
Pelo terceiro método (pobreza multidimensional), o cálculo inclui tipo de piso da moradia, nível de escolaridade, seguro de saúde, entre outras variáveis. Caso uma moradia sofra várias privações, é considerada pobre.
Por esse cálculo, a pobreza na Venezuela alcança 51,1% da população, um aumento de praticamente dez pontos percentuais em comparação com 2015 (41,3%).
A pesquisa mostra também um recuo da proteção social oferecida pelo governo federal, principalmente pelo encolhimento das “misiones”, programas sociais antes tidos como vitrines do chavismo.
Por outro lado, aumentaram as iniciativas de distribuição de comida subsidiada.
Segundo Freitez, trata-se de um sistema marcado por práticas corruptas e sujeito a manipulação para atender interesses políticos do regime de Maduro, que aumentou a distribuição de alimentos às vésperas das eleições de 2017.
“Nesse contexto de crise, o governo tem tentado concentrar a sua política social em alguma prática que produza os melhores créditos políticos possíveis. Então priorizou a distribuição de alimentos, porque, neste momento, é a necessidade básica”, afirma a pesquisadora da Ucab.
DESABASTECIMENTO
A Venezuela vive uma séria crise de desabastecimento, com supermercados com dificuldades para repor estoques. A escassez gerou um amplo mercado ilegal, com preços regulados pelo dólar paralelo, uma taxa proibitiva para a população. Um salário mínimo equivale a US$ 1.
A pesquisa mostrou também que cerca de 8% dos lares venezuelanos têm parentes no exterior. A partir daí, estimou que cerca de 815 mil pessoas tenham deixado o país nos últimos cinco anos.
Apesar da “invasão” em Boa Vista (RR), o Brasil não é um dos principais destinos. Fica atrás de Colômbia, Peru, Chile e até de países pequenos, como Panamá. A pesquisa foi feita em 6.168 lares de todo o país. A informação foi coletada entre julho e setembro, e os resultados usaram 30 de agosto como referência.
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