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- 01/08/2019
- redacao
por Fernando Duarte
Ao longo dos últimos dias, o presidente Jair Bolsonaro ultrapassou muitos limites civilizatórios. Não há qualquer surpresa nos episódios. Desde que era deputado federal, Bolsonaro jamais escondeu o que pensa e o que carrega dentro de si – mesmo que seja preconceitos, barbáries e atentados aos direitos humanos. Ou seja, ao invés de fingir que houve uma versão “paz e amor” durante o período eleitoral, que justificou a vitória dele nos dois turnos, já passou o momento de admitir que ele está de fato e de direito no Palácio do Planalto. E isso não deve mudar em um curto prazo, apesar das sucessivas tentativas de enquadrar as falas dele como quebra de decoro.
Falar em impeachment só vai alimentar o ódio vigoroso que impulsionou a candidatura de Bolsonaro à Presidência. Ainda assim, o tema vai aparecer com frequência no noticiário, mesmo que seja para marcar o posicionamento de adversários. Sendo bem pragmáticos, o presidente pode não reunir as melhores condições políticas para garantir ampla maioria no Congresso Nacional, mas está longe de não as ter para permanecer no posto. E, ao jogar para uma plateia que compartilha valores com ele, Bolsonaro consegue manter o ritmo pré-campanha que o posicionou como protagonista do processo eleitoral do Brasil.
Porém a verborragia presidencial deve ter consequências a médio e longo prazo que dificilmente serão mensuradas com facilidade. O ataque a “paraíbas” voltará a acontecer. A crítica e a ameaça à liberdade de imprensa também. Que dirá a revisitação histórica da Ditadura Militar, já que era da pós-verdade justifica toda e qualquer tentativa de mudar o passado. Como o país amanhecerá após sucessivos disparates ainda é difícil de prever. O que sabemos é que não será facilmente esquecido, principalmente pelos alvos das críticas.
Enquanto não se tem uma “mordaça” para evitar constrangimentos institucionais, sobra espaço para a emergência de novos líderes nacionais. É uma espécie de vácuo criado pela postura antidemocrática alimentada por Bolsonaro. Pelos menos três governadores podem ser classificados como tal: o maranhense Flávio Dino (PCdoB), o baiano Rui Costa (PT) e o paulista João Doria (PSDB). Os dois primeiros são oposição declarada e contraponto desde a eleição. O último é um camaleão político e só finge ser contrário ao presidente para mitigar desgastes futuros. Não nos enganemos de que os passos de todos eles, incluindo o atual morador da Alvorada, não tem vinculação eleitoral, pois 2022 é logo ali.
Se as manchetes não deixam espaço para outras coisas além das declarações do presidente, muita coisa passa sem a devida importância. É possível que o nepotismo gere um embaixador brasileiro nos EUA, que indígenas sejam ainda mais subjugados pelo Estado “civilizado”, ou que o Golpe Militar seja transformado na revolução pregada pelo militarismo. É provável que nossa população seja morta aos poucos com excessos de agrotóxicos ou que os negacionistas do clima se tornem parte da política externa no Brasil. Uma coisa é certa: não há surpresa alguma.
Este texto integra o comentário desta quinta-feira (1º) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30.
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