BAHIA É O ESTADO CAMPEÃO NORDESTINO EM AMPUTAÇÕES DE MEMBROS INFERIORES
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  • 03/07/2022 
  • redacao


Na foto: Sr. Marivaldo, que amputou as duas pernas por conta da diabetes.
Foto: Raphael Müller / Ag. A TARDE

Com 21.069 amputações de pernas e pés realizadas nos últimos dez anos, a Bahia é o quarto estado do país com maior número desses procedimentos e ocupa o primeiro lugar na região Nordeste. Os dados são de um levantamento da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV), que aponta um total de 80.124 amputações de membros inferiores feitas entre 2012 e 2021 nos nove estados nordestinos. Em todo o país, 245.811 cirurgias do tipo foram registradas no mesmo período.

De acordo com o estudo, o Nordeste, que ocupa o segundo lugar no ranking nacional das regiões, tem uma média de 21 procedimentos diários. O relatório sugere uma alta progressiva no número de amputações e desarticulações de membros inferiores no Brasil, em especial no período da pandemia de covid-19. Os dados acendem o alerta para os cuidados voltados às doenças vasculares, diabetes e fatores de risco como tabagismo, hipertensão, idade avançada, insuficiência renal crônica e estados de hipercoagulabilidade.

Presidente da seção regional da SBACV, a cirurgiã cardiovascular Tulia Brasil diz que os dados da pesquisa chamam a atenção pelo impacto na vida do paciente. “Independente do nível da amputação, um paciente amputado é alguém que sofre uma mutilação. Isso tem impacto importante na saúde, já que demanda um longo processo de reabilitação, impacto na qualidade de vida e no ponto de vista social e econômico, já que são pacientes que vão ter prejuízo ou vão deixar de produzir social economicamente em alguma medida”.

Hoje, Marialdo usa próteses nas duas pernas, disponibilizadas pelo Centro de Prevenção e Reabilitação de Deficiências (Cepred). “Agora estou mais atento com o acompanhamento médico, alimentação controlada, faço as medições de glicemia em casa e tomo a insulina, não dá para descuidar”, garante. Quanto às próteses, Marialdo diz já estar perfeitamente acostumado a usá-las, estando apto até a dirigir, depois de ter feito nova carteira de habilitação.

 No caso do diabetes, a presidente da SBACV reforça a importância da atenção contínua a todos os detalhes. “O paciente pré-diabético tem essas alterações iniciais muito discretas. É uma perda de sensibilidade, às vezes uma pele mais ressecada que favorece o aparecimento de rachaduras, um sapato mais apertado pode fazer um calo, até uma  feridinha que pode passar despercebida. Então é muito importante que o paciente olhe com atenção para evitar que qualquer tipo de machucado evolua para um ferimento pior”, orienta.

A cirurgiã explica que a pandemia gerou um aumento nos números de procedimentos e a a própria Covid-19 acabou virando um fator de risco, especialmente para pacientes já comprometidos de alguma forma.

“Os pacientes precisaram se isolar, os atendimentos médicos foram desviados para os atendimentos de emergência da covid-19. Os atendimentos eletivos diminuíram, infelizmente, por uma questão estrutural mesmo. Com isso, muitos pacientes tiveram o acompanhamento prejudicado, especialmente no segmento de doenças como hipertensão, colesterol alto e o diabetes mellitus, a glicemia alterada, que é uma doença que tem um impacto muito forte no ponto de vista da piora da circulação”, analisa Tulia.

Risco silencioso

Foi justamente o diabetes mellitus sem o controle adequado que levou à amputação das pernas de Marialdo Reis, 61 anos. “Descobri a diabetes em 2001, comecei o tratamento médico, tomava as medicações direito, tudo certinho. No meio do tratamento, dei uma relaxada, a gente fica sem sentir nada e descuida. Aí veio a primeira lesão no pé, acabou evoluindo e fizemos a amputação [abaixo do joelho] em 2015”.  Anos depois, em 2017, foi a perna esquerda. Primeiro, foram amputados os dedos do pé, mas a recuperação não foi boa, sendo necessário, novamente, amputar o restante da perna. (

*Sob supervisão da jornalista Hilcélia Falcão