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- 06/09/2017
- redacao
No próximo dia 30, comemora-se o centenário de nascimento do pernambucano Abelardo Barbosa, o velho guerreiro Chacrinha. Abelardo começou sua trajetória no rádio, mas encontrou o ápice da sua carreira como Chacrinha na TV – e no anárquico Cassino do Chacrinha, exibido nas tardes de sábado da Globo, entre 1982 e 1988, ano em que ele morreu. Rodeado por chacretes, o comunicador colecionou uma série de bordões como Eu vim para confundir, não para explicar!, jogava bacalhau na plateia, dava buzinada nos calouros que desafinavam. Um delicioso caos acompanhado na telinha por adultos e crianças. Recriando aquele cenário, o especial Chacrinha, o Eterno Guerreiro, uma parceria entre a Globo e o canal Viva, será exibido na Globo nesta quarta (6), após a novela A Força do Querer – e presta homenagem aos 100 anos de Chacrinha.
A escolha de seu intérprete no especial, Stepan Nercessian, foi fácil. O ator já tinha ganho notoriedade como o próprio Chacrinha no musical de sucesso sobre o velho guerreiro. “Stepan encarna o Chacrinha. É muito impressionante: além do visual, a voz, o jeito, é muito incrível de ver”, observa a diretora-geral Daniela Gleiser.
Stepan conta que, desde que entrou no musical, sua interpretação de Chacrinha foi sendo aprimorada, para se afastar do caricato e ser mais fiel à essência desse personagem tão marcante na TV. “Não sou bom imitador. Fui fazendo, estudando. Aí elementos foram chegando, peguei o temperamento dele, e a voz saiu, o arrastar do pé que ele fazia. Tanto o (autor do musical, Pedro Bial quanto o Andrucha (Waddington, diretor foram me deixando solto”, diz Stepan, que também viverá Chacrinha no cinema.
Assim, o ator já chegou pronto para comandar o programa. Mas Stepan confessa: “O especial na TV foi incrível, o nervoso foi maior do que na estreia do teatro. No teatro, você está fazendo para uma câmera, que é a plateia. Quando fui para a TV, vi como ele controlava o auditório, câmera para cá, câmera para lá”. Stepan conta que houve leitura, ensaio, mas a dinâmica do programa, gravado em maio, foi como se fosse de uma atração ao vivo, com direito a improvisos do ator.
Emoção
Além da interpretação impecável de Stepan, o especial faz essa ponte com o programa original em outros aspectos. Entre eles, um cenário fiel ao do Cassino do Chacrinha, incluindo os tubos de metal, mas com o acréscimo de alguns elementos modernos, como efeitos especiais de luz e projeções em LEDs. A autoria é do cenógrafo Mario Monteiro, que está na Globo há 50 anos e é irmão do autor da cenografia original, de 1982, já morto.
Foram mantidos ainda quadros clássicos, como o cantor mascarado, agora com Luan Santana, e a entrevista com o artista, com participação de Anitta. “O troféu abacaxi, em vez de ser show de calouros, traz atores da Globo imitando o Chacrinha: Tom Cavalcante, Marcelo Adnet, Marcius Melhem, Welder Rodrigues e Otaviano Costa”, acrescenta Daniela Gleiser. Já o corpo de jurados é formado por comunicadores da casa: Luciano Huck, Angélica, Tiago Leifert, Ana Maria Braga, André Marques, Gloria Maria, Fernanda Lima e Regina Casé.
Sem esquecer, claro, das atrações musicais, mesclando artistas que se apresentaram no programa do Chacrinha naquela época e outros que estariam no Cassino se ainda estivesse no ar: de Roberto Carlos e Ney Matogrosso, passando por Fábio Jr., Luiz Caldas e Sidney Magal, até Ivete Sangalo e Marília Mendonça. “A gente fez um recorte, não tinha como chamar todo mundo. O axé não podia faltar, porque, depois que o Luiz Caldas foi no Chacrinha, o axé deu uma guinada, e bombou. Então, a gente achou que ter o Luiz Caldas ali seria ótimo. O Magal foi lançado no Chacrinha. Tinha que ter um rock 80, então chamamos a Blitz. Fábio Jr. era apaixonado pelo Chacrinha, e ainda é. O Chacrinha era apaixonado pelo Roberto, ele chorava toda vez que ele ia”, conta a diretora-geral. Segundo ela, o Rei Roberto aceitou o convite prontamente. “A memória que as pessoas têm do Chacrinha é muito afetiva. Então, quando a gente falava que queria fazer o especial, elas queriam estar lá.” Muitos deles, aliás, se emocionaram com esse reencontro com Chacrinha e abraçaram Stepan como se estivessem novamente nos braços do velho guerreiro.
Um dos convidados do especial, Ney Matogrosso era presença frequente no Cassino do Chacrinha. “Minha relação com ele era a mesma que todo mundo daquela época tinha. Era um lugar onde as pessoas lançavam discos, frequentavam regularmente o programa. Era um lugar com talvez o maior índice de audiência, e fora ele, né?”, lembra Ney, que canta no especial a música Por Que a Gente É Assim?, a mesma que Chacrinha pediu para Ney cantar duas vezes na primeira vez que o cantor esteve no programa. “Você já viu isso acontecer em algum programa de TV? Cantar duas vezes a mesma música? Ele liberou as chacretes, elas ficaram em volta de mim, pareceria uma orgia, elas passando a mão e eu cantando, porque tudo isso podia num programa à tarde.”
E, para o cantor, como Chacrinha, essa tão figura anárquica da TV, existiria nos dias de hoje? “Acho que, nesse contexto de hoje, não haveria Chacrinha, não haveria Secos e Molhados, porque hoje está uma caretice imperando, ou uma falsa moralidade”, responde Ney. “E tem também essa coisa esquisita chamada politicamente correto. O politicamente correto é uma régua que eles passam: daqui para cá, nada; daqui para lá, nada; só nesse meio aqui pode transitar. É muito chato. Tento conviver fora disso, sem me preocupar com isso, mas acho muito chato ter que pensar nisso, que isso existe.
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