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- 04/11/2014
- admin
Por Armando Avena
Poucas vezes, no longo tempo em que venho labutando com a Economia, tenho visto uma equipe econômica tão desastrada como a que nesse momento assessora a presidente Dilma Rousseff. Chego a pensar que alguém avesso a racionalidade econômica infiltrou-se no Banco Central e no Ministério da Fazenda e, de propósito, faz o oposto ao que deveria ser feito.
Foi o que ocorreu está semana, quando, contra todas as expectativas, o Banco Central aumentou a taxa de juros em 0,25%. Novamente o governo agiu de supetão, sem planejamento, apenas para impressionar o mercado, mostrando que o combate a inflação será pra valer.
O problema é que os juros já estavam no patamar adequado, aumentá-los em 0,25% terá pouco efeito na redução do processo inflacionário, mas será um balde de água fria no restinho de expectativa que o empresariado tinha de crescimento em 2014 e na sua expectativa de investir mais em 2015.
O aumento nos juros pode até fazer a bolsa subir por um ou dois dias, mas não era essa a medida que o mercado esperava. Dez entre dez economistas, com exceção de Guido Mantega naturalmente, esperavam, além do nome do novo ministro da Fazenda, o anúncio de medidas de austeridade fiscal, ou seja, corte de gastos públicos.
Mas, em vez de cortar na própria carne, o governo corta na carne alheia e aumenta os juros no mesmo dia em que os jornais anunciam que a baixa arrecadação acumulada no ano, juntamente com a expansão dos gastos públicos, tirou qualquer possibilidade do governo atingir a meta de 1,9% do PIB de superávit primário este ano.
A verdade é que é contraditória a equação montada pela equipe econômica, ou seja: aumento dos juros para conter a inflação e, ao mesmo tempo, aumento dos gastos do governo, que tem efeito oposto.
Os economistas dizem isso de uma forma mais hermética: o governo está com uma política monetária restritiva e uma política fiscal expansionista. O resultado dessa equação é a paralisação da economia. A presidente Dilma precisa ser salva dos seus economistas.
O velho Keynes dizia que duas coisas movem o investimento: a taxa de juros e as expectativas. Após a eleição, todos esperavam uma sinalização positiva, mas, ao contrário, a equipe econômica do governo joga para cima a taxa de juros e para baixo as expectativas.
Assim, não há otimismo que resista. Alguns economistas dizem que a elevação dos juros aumenta a credibilidade da política econômica do governo, mas muito melhor que esse aumento para inglês ver seria anunciar que em 2015 o governo reduzirá seus gastos correntes e voltará a ter um superávit primário de 1,9%, e detalhar quais as medidas serão adotadas para isso.
Claro, tem de ser superávit de verdade, sem os efeitos especiais ou a maquiagem do nosso versátil Guido Mantega. As principais entidades empresariais do país já mostraram à presidente Dilma o que esperam do novo governo: mudanças claras e concretas e não apenas pontuais na condução da política econômica.
Isso quer dizer que o empresariado não quer a política atual que passa todo o tempo empurrando os problemas com a barriga, com medidas tópicas, como aumentar os juros em 0,25%, três dias depois das eleições.
Além disso, o que mais quer o empresariado? Quer o controle da inflação, mas sem a necessidade de subir tanto a taxa de juros, e isso só é possível se o governo gastar menos. Quer reduzir os altos custos da produção, quer menos impostos e que haja a simplificação tributária.
Quer também que as empresas estatais tenham um gestão técnica, que se tire os políticos da Petrobras, do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal para que essas empresas voltem a ser geridas como empresas, pois pelo seu porte e importância elas dinamizam a economia.
Enfim: o que o empresariado quer pode ser resumido numa frase: expectativas favoráveis e segurança na economia. Ou seja, a presidente Dilma precisa jogar as expectativas para cima anunciando o nome do novo ministro da Fazenda e uma política econômica racional e de longo prazo.
O empresário age em função das expectativas e, enquanto a presidente não se pronunciar, ela será a da manutenção do quadro atual.
A equipe de transição do governador eleito
O governador eleito nomeou, como é de praxe, uma equipe de perfil nitidamente técnico para fazer a transição para o seu governo. Coordenado pelo secretário da Fazenda, Manoel Vitório, um especialista em administração pública e finanças, de competência comprovada, o grupo deve propor um enxugamento da máquina pública e um reordenamento de funções.
Na verdade, Vitório e a Secretaria de Administração já estudavam propostas para a restruturação da máquina estadual e agora haverá o afunilamento dessas ideias.
A equipe compõe-se de técnicos qualificados, especializados em várias áreas, a exemplo de Cláudio Ramos Peixoto, especialista em orçamento, de Cláudia Maria Moura, procuradora do Estado, Carlos de Mello, secretário da Casa Civil, Adriano Chagas e todos os demais.
A reforma administrativa vai tentar mexer em gargalos históricos da administração pública, como a Ebal, um verdadeiro dinossauro que sobrevive ao logo do tempo, e a EBDA.
Deverá haver redução do número de secretarias, com a extinção da Secopa, da Secretaria Extraordinária para Assuntos Estratégicos e outras. Poderá haver também algumas fusões.
Felizmente, o governador eleito, Rui Costa, começa sua administração delegando a profissionais experientes a tarefa de tornar o estado mais enxuto e eficiente.
Faulkner e o ambiente de trabalho
Outro dia ouvi um consultor afirmar que o ambiente é o fator principal na produtividade do trabalho. Achei um pouco demais, afinal, para quem deseja trabalhar qualquer lugar é lugar. Lembrei-me, então, que certa vez perguntaram a William Faulkner, o grande escritor americano, Prêmio Nobel de Literatura em 1949 qual o ambiente ideal para um escritor trabalhar?
Ele ficou a matutar e depois respondeu que a arte não tem nada a ver com o ambiente. O repórter insitiu e o autor de O Som e a Fúria respondeu que, para um escritor, o melhor ambiente de trabalho era um bordel.
E explicou: “O lugar é quieto pela manhã, que é a melhor hora do dia para trabalhar. Há bastante vida social à noite, para impedi-lo de se aborrecer. Proporciona ampla liberdade econômica e nada se tem a fazer, já que a cafetina toma conta da contabiliadde e as mulheres o chamam de doutor.” Pois é, às vezes nos lugares mais inapropriados pode-se encontrar condições ideais de trabalho.
As importações da Ford
A Ford é a empresa que mais importa na Bahia, mais até que a Petrobras. Em 2013, a empresa comprou quase 2 bilhões de dólares em produtos no exterior e vendeu menos da metade desse montante, cerca de US$ 750 milhões.
Entre janeiro e setembro de 2014, a Ford importou US$ 1,4 bilhão e exportou apenas US$ 345 milhões, quatro vezes menos do que comprou lá fora. O que tanto compra no exterior a Ford, se o grau de baianização da produção é sabidamente alto?
A resposta é simples: automóveis, milhares deles, que chegam prontinhos ao porto da empresa em Ponta da Laje e daí são distribuídos para o Brasil e outros países. A verdade é que a Ford na Bahia tornou-se uma plataforma de importação de veículos da empresa.
Até aí, tudo bem, ou quase. O problema é que as exportações da empresa estão com forte queda este ano. Em 2013, a empresa exportou R$ 747 milhões, metade do que exportou a Petrobras, líder da pauta de exportações baianas.
Mas em 2014, por conta da queda na demanda da Argentina e do dólar alto, as vendas externas do Complexo Automobilístico da Ford despencaram e atingiram apenas US$ 344 milhões, entre janeiro e setembro, uma queda de 40% em relação ao mesmo período do ano passado.
Ora, tal queda nas exportações e uma redução significativa na produção deveriam ter feito cair também as importações da empresas. Mas, não, mesmo com a queda da produção, as importações continuam crescendo, cerca de 10%. Ao que parece, a Ford tem mais lucro importando do que produzindo na Bahia.
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