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- 15/06/2016
- redacao
Em uma seca que materializa catastróficas previsões, noticia-se o primeiro caso de tentativa de homicídio por causa de água.
Situações extremas podem levar seres humanos a atitudes que seriam impensadas em condições normais. Muitos assistiram àquele antigo filme sobre um acidente aéreo nos Andes, em que os sobreviventes, no desespero da fome, usaram a carne das vítimas como alimento. Absurdo? Nada! É apenas humano, demasiadamente humano, como diria Nietzsche.
Livros como “Ensaio sobre a cegueira” e até séries como “The Walking Dead” demonstram como as circunstâncias mudam os comportamentos, revelando verdadeiras feras que habitam no interior de pacatos cidadãos. Pela sobrevivência, ou até por muito menos, cometem-se as mais abjetas atrocidades. Limites desaparecem e a lei da selva se impõe.
Nossa querida Itabuna vive dias assim. Em uma seca que materializa catastróficas previsões, noticia-se o primeiro caso de tentativa de homicídio por causa de água. E é sintomático que o fato não tenha como protagonistas pessoas sedentas pelo líquido ora tão escasso, mas dois comerciantes, sedentos pelos lucros auferidos nesses tempos em que uns sofrem e, como de praxe, outros gozam.
Assim como na história do boi que morre e do urubu que não vê a hora de lhe devorar os restos, em nossa releitura de “Vidas Secas” há também os que se valem e se fartam da miséria alheia. Para eles, quanto mais a seca perdurar, melhor. Enquanto puderem vender 1 mil litros de água por 300 reais, que sequem os rios e morra o gado.
Há relatos de disputas entre moradores, desesperados, por baldes da água escassa dos tanques comunitários, mas é extremamente revelador da natureza humana que o primeiro a empunhar uma faca tenha sido um beneficiário da tragédia. Ele feriu o outro não porque tinha sede do líquido, mas para defender sua fatia de um negócio espúrio, cruel e desumano. Um negócio que revela o quão terríveis nós podemos ser.
(*) Ricardo Ribeiro é advogado.
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