Itacaré: A Oligarquia Cacaueira ainda não está extinta, ( *Por Cléber Meneses)
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  • 01/08/2015 
  • redacao

cleber meneses

Um lindo paraíso tropical, que compreende as mais belas paisagens do Litoral Sul da Bahia, é subjugado por uma administração inescrupulosa que transformaram o poder público em privado, tomando decisões sem consulta popular e em beneficiamento próprio ou de seus parceiros. Este lugar é o município de Itacaré – BA.

A cidade vive sob o comando da OLIGARQUIA BARROS que vislumbra a Prefeitura como um guarda-roupas, onde pode empendurar seus cabides de emprego, beneficiando boa parte de sua família (nepotismo desenfreado), como podemos perceber abaixo:

Secretária de Ação Social – Cecília Barros (1º Dama)

Secretário de Cultura – Luiz Quadros (Irmão da 1º Dama – Cunhado do Prefeito)

Secretário de Administração – Jarbas Jr. (Filho do Prefeito)

Vice-Prefeito Cláudio Barros (Primo do prefeito)

Chefe de Gabinete – Marcelo Barros (Primo do Prefeito e irmão do vice)

Tesoureiro – Gabriel Filho (irmão do prefeito)

Assessor – Miguel Quadros (Cunhado do Prefeito)

Além de sobrinhos e sobrinhas, afilhados e outros…  cadê o Tribunal de Contas dos Municípios para acabar com essa festa?

O pior de tudo é que em sua maioria, a comunidade dificilmente encontra esses funcionários desenvolvendo suas funções. Caso queira ter uma audiência com o Prefeito é mais fácil marcar em Salvador ou em sua fazenda, pois é onde passa a maior parte do seu tempo. E assim não é diferente com a 1º Dama e seu filho. Afinal de contas, é uma família unida… onde um vai os outros vão atrás.

Uma situação inédita em uma gestão é ter um padre nomeado como Diretor de Cultura… onde está o Estado Laico? Piorando a situação, este mesmo padre deixa a paróquia do município, mas não larga o osso, pois mesmo sendo transferido para paróquia de Olivença (em Ilhéus), continua no cargo. Estranho não?

Outra vergonha nesse município é o valor das diárias (recurso disponibilizado aos servidores públicos para custear as despesas com hospedagem e alimentação em viagens de trabalho) dos secretários e diretores, que são respectivamente R$ 800,00 e R$ 600,00. Em comparação as diárias do Governo do Estado da Bahia, que temos como maior diária a do Governador e Vice-Governador que corresponde a R$ 202,00, de acordo DECRETO Nº 13.169 DE 12 DE AGOSTO DE 2011, podemos ter uma noção de como é discrepante a situação. Enquanto as estruturas físicas da maioria das secretarias não possuem água para consumo, telefone fixo, computador, impressora e etc., temos um custo elevadíssimo de viagens desnecessárias, com a farra das diárias para servir como complementação de renda para seus pares.

Outro fato que marca esta gestão é o assédio moral constante, que ocorre durante as reuniões de Secretários e em outros espaços. Só não dá para entender como esses profissionais se submetem a essa situação. Ou é submissão, ou medo e necessidade de se manter empregado.

Não dá para deixar de relatar que um fato ocorrido durante a preparação e seleção dos personagens do Desfile 02 de Julho (Independência da Bahia), que foi regido pela organizadora, por discursos racistas negando a participação dos negr@s nativ@s para representar os personagens da Corte, bradando aos quatro cantos: “Não posso reescrever a história, uma vez que a corte era formada por Europeus Brancos e assim será no desfile.” E sem nenhum tato, continuava proferindo seu discurso racista se reportando aos jovens negr@s que quisessem participar do desfile, que se contentassem em representar os escravos ou os índios (pois na visão dela índios e negros são a mesma coisa)… e dizia: “Vocês são pretas e tem cabelo duro, portanto não podem ser Damas Antigas no desfile”.

Fui abordado várias vezes pela organização para que eu desfilasse como general porque sou de pele e olhos claros… eu disse que teriam que usar a população local independente da cor da pele…. aí me disse: não me venha com essas modernidades… adivinhem quem foi o D. Pedro no Desfile? O filho do prefeito e atual secretário de Administração acompanhado de sua namorada que veio de Salvador.

O que esperar de uma família com posturas racistas desta forma? Apoiar as Comunidades Quilombolas?

Para reafirmar a postura de segregação que este governo desenvolve, temos uma cartada final em relação à comunidade negra. Faltando apenas dois dias para o Festival Quilombola de Itacaré acontecer, projeto este desenvolvido em conjunto entre a equipe da Secretaria Municipal de Cultura e o Conselho Quilombola de Itacaré.O Prefeito manda recado pelo secretário de cultura (que precisamos relembrar que é seu cunhado) que não iria assumir nenhuma despesa das demandas que ficaria sob a responsabilidade da prefeitura, alegando que não teria como custear por falta de recurso, sendo que no final de semana anterior tinha investido quase 80 mil reais na Marcha para Jesus (evento evangélico). Pra piorar a situação, os custos para o Festival Quilombola não ultrapassaria 10 mil reais.

Mediante a situação, pra não deixar as comunidades quilombolas na mão, resolvemos correr atrás de alternativas para suprir as despesas que ficariam sob a responsabilidade da prefeitura, que não podemos deixar de registrar, que consta seu nome como realizadora do Festival em todo material publicitário e não custeou um centavo.

Sendo assim, como não cancelaríamos o evento idealizado e organizado durante 4 meses, recorremos a todos que desejassem apoiar o projeto, independente de bandeira política. Eis então que o Partido dos Trabalhadores local, sentindo-se sensibilizado, decidiu apoiar no que foi possível e que somado ao recurso emergencial e prestação de serviços que conseguimos com as parcerias institucionais firmadas com ao órgãos do governo estadual, através do Conselho Quilombola, conseguimos realizar às duras penas o Festival, que apesar de todo desgaste e sacrifício da equipe reduzida que trabalhou na coordenação desse projeto, aconteceu com maestria a reverência à Comunidade Negra.

Como o PT local é oposição ao governo do atual prefeito, ele decidiu punir o Diretor de Projetos da Secretaria Municipal de Cultura por ir de encontro a falta de comprometimento dele perante as 750 famílias que compõe os 7 quilombolas de Itacaré e o exonerou um dia após o fechamento do Festival.

Mas o que se esperar de uma gestão consolidada com base no nepotismo, onde temos uma oligarquia formada por esta família Barros?

Itacaré no Século XXI ainda vive com uma administração do século passado. Lamentável!

Texto: Cléber Meneses, Bacharel em Economia e Mestre em Cultura e Sociedade pela UFBA/ Trabalhou por 05 anos na Secretaria de Cultura do Estado. Ex- Diretor de Projetos da Secretaria Municipal de Cultura de Itacaré.

(*) Bacharel em Economia e Mestre em Cultura pela UFBA-Ex-  diretor de Projetos da Secretaria de  Cultura  de Itacaré.