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- 19/04/2019
- redacao
Era o início do mês de maio. As colheitas se aproximavam. Havia uma ótima perspectiva de bons cortes, considerando as condições climáticas favoráveis durante o período da estiagem. Até o ataque da vassoura tinha arrefecido. Em termos de produção, tudo corria às mil maravilhas. Uma grande esperança brotava no coração dessa gente sofredora…
O velho produtor, Gilberto Fernandes, acordara cedo para fazer uma avaliação in-loco, da sua produção na fazenda, localizada na região de Piraúna. Amanhecera. O dia cinzento e úmido demonstrava que o sol não demoraria a abrir. De fato os primeiros raios já se avizinhavam. Os seus clarões penetravam nas falhas das roças, permitindo a visão do carrego e da bilração dos cacauais. Adentrou a estrada que ligava a sede às roças. Montado em seu burro de estimação, deixado de herança pelo seu velho pai. Seguia em frente, fazendo ziguezague pelos caminhos já conhecidos pelo animal. Quanto mais penetrava fundo nas roças, melhor antevia o carrego promissor e perspectivas de maior produção ao ocorrido na safra passada. Prometia bons lucros que possibilitaria seus pequenos compromissos atrasados da safra anterior.
De retorno à sede o movimento da tropa era grande. Circulavam de um lado para o outro os animais, trazendo cacau mole para os cochos. Outros animais melhores e de boa arreata recebiam a carga do cacau seco que se destinavam á cidade para a venda. A televisão anunciava bons preços com a alta do dólar. A tropa singrava lenta em demanda à cidade. O tropeiro garboso estalava sua cruvelana fazendo-a estalar e os animais ao som do látego se postavam em rítimo compassado a se formarem em fila para o descarrego da mercadoria no armazém de Calheira, onde o seu gerente o recebia com lhaneza e distinção. Bons dias meu amigo, falou o produtor. Que mal lhe pergunte, qual é o preço de hoje do cacau? Indagou! É de 55,00 respondeu Jorge. Vixe Mãe de Deus! Não era 60,00 ontem? Era, disse-lhe novamente o gerente com ar de solidariedade. A bolsa de Nova Yorque caiu. A firma Cargil importou mais de 250 mil sacos, abarrotando o mercado, fazendo-o cair a níveis ínfimos e menor do que o anunciado pelo rádio. Mentalmente, somou o valor do cacau ao preço ofertado e concluiu que o dinheiro não seria suficiente para pagar suas dívidas na semana. Pensou. Vou pagar a folha dos empregado, pois o dinheiro da semana seria logo pago a compra do armazém e o restante para a feira da semana. Os outros que esperem e, seja o que Deus quiser…
Lembrou-se que na saída da fazenda o canto melodioso de um curió preto soltava cânticos de estado e carretilha animal invulgar e de talento precioso. Era o chamado curió de aposento. Se nos enchia de prazer o som mavioso de pássaro, por outro lado demonstrava maus presságios ao preço do cacau.
Nunca mais venderia cacau antes de ouvir o canto do curió PARDO.
Armando Uzêda Pires
Membro do Sindicato Rural de Ubaitaba
( Arquivo:Jornal Tribuna da Região)
O CANTO DO CURIÓ, EU TROCO O TITULO PARA O CANTO DO MAIOR E MELHOR PREFEITO DA HISTÓRIA POLITICA ADMINISTRATIVA DE UBAITABA, TIVE A HONRA DE SER AMIGO DE ARMANDO, O PRAZER DE CAMINHAR COM ESTE GRANDE HOMEM, DEIXOU UM LEGADO DE TRABALHO E COMPETÊNCIA PARA O POVO DESTA TERRA JAMAIS ESQUECER.
Obrigado Humberto pela lembrança. Texto típico de quem conhecia como poucos a linguagem dos produtores de cacau e de quem tinha por sua terra o sentimento do amor mais puro.