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- 26/09/2020
- redacao
O médico Daniel Gatica chegou ao limite e decidiu que deixaria a linha de frente no combate à pandemia de Covid-19 na Argentina após ser apedrejado por parentes de um paciente que morreu devido à doença.
Ele explicou a decisão em uma carta publicada no Facebook em 13 de setembro. “Hoje digo basta, hoje sinto que fracassei.” Gatica contou que havia enfrentado “12 dias de puro estresse, só dando más notícias”.
“Estou cansado de ter três mortes em uma tarde ou cinco em uma noite e saber que nunca há um leito na UTI”, escreveu. “Quantas vezes eu dormi de pé, ainda usando o EPI [equipamento de proteção individual], depois de atender 32, 40 ou 64 pacientes.”
Gatica, residente em medicina da família e funcionário num hospital há três anos, disse em entrevista ao jornal Perfil que a agressão que ele sofreu “foi um dos momentos mais tristes da carreira”.
Ele contou que estava do lado de fora do hospital dando notícias de um paciente a seus familiares quando parentes de outro foram informados que ele havia morrido.
“Dois indivíduos desajustados começaram a jogar pedras onde eu estava. Uma passou a alguns centímetros do meu rosto e quebrou um vidro. Outra caiu no meu pé. Só não aconteceu algo pior graças aos familiares dos outros pacientes que me protegeram e contiveram os dois imprestáveis.”
Em sua carta, Gatica questionou o comportamento da sociedade argentina na pandemia e a chamou de “hipócrita e injusta”. “Quando era necessário se cuidar, tudo era diversão, e hoje eles choram os mortos e exigem atenção. Essa pandemia despertou o pior de todos.”
Mas ele também cobra as autoridades de saúde. “Eles sabem que somos 21 médicos, dos quais 4 são residentes e que hoje são 7 trabalhando porque o resto adoeceu?”
“Hoje me senti abandonado pelo sistema e, principalmente, pelo hospital”, diz. “Onde estão o investimento na saúde, os aplausos e os heróis? Por que meus colegas, amigos e companheiros não recebem desde junho?” (Folhapress”
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