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- 02/03/2021
- redacao
As pesquisas apontam que a cepa P.1, como foi nomeada, é até 2,2 vezes mais contagiosa, aumenta em dez vezes a quantidade de vírus nas células do doente e tem uma chance até 61% maior de escapar da imunidade protetora conferida por uma infecção prévia. A linhagem já foi identificada em 17 Estados brasileiros. As pesquisas ainda não foram revisadas por outros cientistas nem publicadas em revistas científicas, mas estão disponíveis online, de acordo com o Estado de São Paulo.
O aumento da carga viral foi identificado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Amazônia a partir da análise do material genético de 250 amostras do Sars-CoV-2 de pacientes infectados no Estado do Amazonas entre março de 2020 e janeiro de 2021. O estudo foi publicado na sexta-feira, 26, no site Research Square.
Ao analisarem amostras de diferentes períodos, os pesquisadores confirmaram que a primeira onda da pandemia no Estado teve predominância das linhagens B.1.195 E B.1.1.28. Esta última permaneceu como a principal cepa no Brasil durante quase todo o ano de 2020. Já na segunda onda, observada a partir de dezembro, houve o surgimento da P.1, que rapidamente tornou-se predominante em Manaus e passou a ser associada à explosão de casos vista na cidade em janeiro.
Ao comparar as amostras P.1 com todas as demais cepas, os cientistas verificaram uma carga viral dez vezes maior entre as infecções pela nova variante, especialmente em pessoas de 18 a 59 anos e em mulheres idosas. Não houve diferença significativa de carga viral em homens com mais de 60 anos, mas isso pode estar relacionado ao fato de a carga viral em idosos do sexo masculino já ser mais alta mesmo em infecções pelas cepas anteriores.
“A comparação dos pacientes mostra claramente que a infecção por P.1 gera maior carga viral em adultos. Em idosos, a significância foi pequena ou nenhuma. Talvez porque nossa amostragem era menor nesse grupo ou porque esses indivíduos são igualmente vulneráveis a todas linhagens”, explicou Tiago Gräf, um dos autores do estudo, em sua conta no Twitter.
Ainda não se sabe se o aumento de carga viral pode tornar a doença em adultos mais agressiva, mas o aumento da quantidade de vírus no organismo contribui para que essa cepa seja transmitida com mais facilidade.
O outro estudo, feito pelo Centro Brasil-Reino Unido de Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (grupo Cadde), do qual a USP faz parte, utilizou dados genômicos e epidemiológicos para analisar as características da P.1.
A partir de um modelo matemático, os cientistas verificaram que a nova variante é de 1,4 a 2,2 vezes mais transmissível do que as anteriores e tem uma probabilidade de 25% a 61% maior de escapar da imunidade desenvolvida a partir de uma contaminação prévia por outra cepa.
Os autores ressaltam que mais dados e estudos são necessários para definir com mais precisão o quanto a nova variante é mais transmissível ou mais propensa a provocar reinfecções. Os cientistas não fizeram nenhuma análise sobre o impacto da nova variante sobre a eficácia das vacinas e defenderam que pesquisas sobre o tema sejam feitas com urgência.
O estudo investigou ainda a disseminação da linhagem pelo Brasil e verificou múltiplas vias de introdução da cepa em Estados do Sudeste, principalmente por viagens aéreas.
Nas duas pesquisas, os autores ressaltam a importância das medidas não-farmacológicas, como uso de máscara e distanciamento social, como forma de deter a disseminação da P.1 e evitar o surgimento de novas variantes de preocupação.
O artigo da Fiocruz Amazônia ressalta que o afrouxamento dessas medidas foi um dos principais responsáveis pelo surgimento da nova cepa e alerta para o risco de novas variantes surgirem.
“A falta de distanciamento social eficiente e outras medidas de mitigação provavelmente aceleraram a transmissão precoce da P.1, enquanto a alta transmissibilidade desta variante alimentou ainda mais o rápido aumento de casos de SARS-CoV-2 e hospitalizações observados em Manaus após seu surgimento”, declararam os autores no artigo.
Eles comentam que uma hipótese é que a P.1 surgiu pela pressão evolutiva de o vírus querer continuar se disseminando mesmo em uma população com um alto número de pessoas com anticorpos, como a do Amazonas, onde as taxas de infecção foram altas na primeira onda.
“A fraca adoção de intervenções não farmacêuticas, como ocorreu no Amazonas e em outros Estados brasileiros, representa um risco significativo para o contínuo surgimento e disseminação de novas variantes”, concluem os cientistas no artigo.
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