‘SEMPRE CORRIA AQUI”, DIZ CUNHADO DE ENGENHEIRO QUE MORREU EM DESABAMENTO DE CICLOVIA
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  • 22/04/2016 
  • redacao
Eduardo Marinho de Albuquerque, de 54 anos, corria na ciclovia quando as ondas destruíram o trecho em que ele estava.

Eduardo Marinho de Albuquerque, de 54 anos, corria na ciclovia quando as ondas destruíram o trecho em que ele estava.

O engenheiro Eduardo Marinho de Albuquerque, de 54 anos, corria na ciclovia quando as ondas destruíram o trecho em que ele estava. O capitão-médico da Aeronáutica João Ricardo Tinoco, cunhado dele, que foi reconhecer o corpo, contou que o engenheiro gostava de se exercitar ali por causa da bela vista para o mar. “Era um dia de lazer, de sol, de contemplar a natureza, e a desgraça surge no caminho de quem só queria o bem. É inadmissível”, desabafou Tinoco na praia de São Conrado, onde os corpos foram deixados por guarda-vidas do Corpo de Bombeiros, que os recolheram no mar.

Albuquerque morava em Ipanema e corria de casa até o Leblon para chegar então à ciclovia – um trajeto comum entre pessoas adeptas da corrida e que vivem na região. A mulher dele, Eliane, médica, soube do desabamento pela televisão e desconfiou que o marido poderia estar entre as vítimas. Ao ver o corpo na praia, ela se desesperou e se agarrou ao cadáver na areia, inconformada. O casal tem um filho de 15 anos. “Realmente foi uma fatalidade horrível. Ele era corredor, sempre corria. Não ficou boa essa ciclovia, porque se logo no início já caiu, imagina se ficasse mais tempo”, disse Tinoco.

“Vi a pista desmoronar como se fosse de papel. disse um morador do lugar

“Vi a pista desmoronar como se fosse de papel. disse um morador do lugar

Irmão de Eliane, ele estava perto da ciclovia no horário do acidente e recebeu um telefonema dela para que fosse até a praia. “Minha irmã ficou desconfiada ao saber da queda da ciclovia. Como o marido havia saído para correr, ela associou e pediu para que eu visse os mortos. Infelizmente, reconheci o corpo de meu cunhado”. Até o início da noite, a segunda vítima não fora identificada.

Morador de São Conrado, o administrador Guilherme Miranda, de 42 anos, que usava a ciclovia todos os dias, testemunhou a queda de três pessoas no mar: “Vi a pista desmoronar como se fosse de papel. Deu para ver os corpos boiando por cerca de trinta minutos até os bombeiros chegarem. Aqui é um lugar que tem ressacas no mínimo do dobro do tamanho dessa. Como o governo entrega uma obra frágil assim?”, questionou, referindo-se à fama das ressacas em São Conrado – não raro as ondas invadem o calçadão da praia.

O aposentado Damião Ribeiro, de 60 anos, pescava na Avenida Niemeyer e foi surpreendido por uma onda maior do que de costume. “Estava pescando quando uma onda enorme veio e suspendeu uma das peças na base da pista. Um casal e uma pessoa que tirava fotos na mureta da pista caíram. Não deu para socorrer”, lamentou. “Por sorte não morri”, disse o manobrista de carros Gerson Magalhães, de 33 anos, que também passava de bicicleta no momento do acidente. “Estava passando com muito medo porque as ondas estavam fortes e molhando a pista. Quando vi que as ondas estavam ficando maiores, acelerei a bicicleta e passei pelo trecho que desabou segundos antes dele ruir.”

Morador da Favela do Vidigal, que fica em frente à ciclovia, Juan Reis, de 16 anos, tentou alertar duas mulheres, uma de cerca de 18 anos e aparentando 40, sobre o perigo das ondas. Elas caminhavam à sua frente. “Como sou surfista, alertei a senhora que estava na ciclovia para ela se retirar, pois as ondas estavam muito fortes, mas ela não me ouviu e continuou. Quando a onda veio, eu acelerei. Cheguei a me molhar. As duas mulheres caíram”.

O Corpo de Bombeiros havia suspendido as buscas por uma terceira vítima por volta das 18h, quando começou a escurecer. Os trabalhos, porém, recomeçaram minutos mais tarde, após uma pessoa ter dito que avistou “uma sombra” junto às pedras, que poderia ser um corpo.