OS CONSELHOS DE LULA
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  • 13/08/2015 
  • redacao

 

 

samuel

A presidente Dilma Rousseff mudou o seu jogo político a partir de conselhos de Lula que, se não está em boa sintonia com ela, também não a desprezou. Continua seu conselheiro, provavelmente o único. Isso é parte do seu próprio jogo, do desgaste em consequência da incompetência da presidente que atinge a um só tempo, a ele próprio, Lula, e ao PT, que passou a perder substância e quadros partidários, desabando como legenda com a fuga de adeptos. A consequência negativa poderá ser apresentada ao partido em forma de votos nas eleições municipais do próximo ano.

De tal modo tem sido assim que o ex-presidente passou a controlar a movimentação de Dilma, aconselhando-a a visitar os estados nordestinos, bases petistas e onde, na última pesquisa do Datafolha, ela caiu para 66% negativos, encostando-se nos 71% que a repelem nas diversas regiões do país. Os conselhos de Lula têm surtido efeitos positivos. Os discursos que a presidente têm feito nos estados, com algumas exceções quando tenta se confrontar com a oposição passaram de negativos a positivos. Mais ainda erra e muito.

Ainda ontem, Lula, seu grilo falante e a sua consciência política, à imprensa pediu que a população não a julgue pelos últimos seis meses, mas aguarde a recuperação que poderá vir à frente. É um pedido difícil. Sem que ainda houvesse iniciado o seu segundo governo, a presidente mentiu muito transmitindo uma imagem positiva inexistente do país, para que angariasse votos e reeleger-se para o segundo mandato.

Já em novembro do ano passado a mentira veio à tona, ao se dar conta de que o Brasil estava a caminho de uma fortíssima crise econômica, de tal modo que está perdendo o grau de investimentos das agências internacional. Por enquanto, presume-se que a crise só se afaste em 2017, mas é difícil marcar o desespero no calendário do tempo. Por ora, a crise evolui. Espraia-se para os mais diversos segmentos, a começar pelo setor político, alcançando as camadas mais necessitadas da população brasileira, com a derrocada da produção e a queda devastadora no setor empregatício.

Preocupada e envolvida pelas crises econômicas e políticas, a presidente abandonou o seu labirinto no Palácio do Planalto para se reunir com políticos, ministros, e, na terça-feira à noite, com o Judiciário. Se não fosse tão desastrada já teria, sem necessitar de Lula, agido como agora o faz certamente preocupada com as manifestações populares marcadas para o próximo domingo.

Envolvendo o seu movimento, a presidente cometeu um grave erro ao se reunir com o presidente do Senado, Renan Calheiros, um nome envolvido em denúncias e “mal feitos” palavra que ela tanto usou e agora “esqueceu”, ao aflorar a corrupção mais objeta já vista ou presenciada na história da República, justo nos períodos de governo do PT, de Lula e no dela. Ambos estavam ausentes, distantes, sem saber (será?) do que se passava em cada esquina, em cada estatal do governo, a partir de diretores nomeados por partidos políticos por concessões do próprio PT e do desmoralizado José Dirceu. Gerando, daí, o petrolão que se alarga para outros segmentos estatais.

Não há nada, neste comentário, que já não seja do conhecimento de quem acompanha de perto a terrível crise que envolve o país. Mesmo petistas, até os mais alienados, não poderão contestar a situação que ocorre, que se presencia, e que pode levar a desfechos variados, exceto ao golpe, porque estas três décadas de nova democracia deverão ser um marco positivo para o Brasil e garantidora da institucionalidade.

A Constituição de1988 é a grande guardiã das instituições. Se ocorrer que os poderes Executivo e o Legislativo atravessam situações complicadas, o Judiciário ditará a ordem, mesmo que Renan Calheiros tenha desconhecido que o poder legislativo é bicameral, que não é somente o Senado, mas também a Câmara dos Deputados, e tenha desconhecido tal realidade que está a levar agora um novo desentendimento entre as duas casas do Congresso. por Samuel Celestino

* Coluna publicada originalmente na edição desta quinta-feira (13) do jornal A Tarde