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- 30/09/2021
- redacao
O monge procurou o padre Ernani Maia dos Reis, líder do Mosteiro Santíssima Trindade, na cidade mineira de Monte Sião, para confessar um conflito interior entre sua vocação religiosa e o desejo de constituir família. “Mas você é gay, casar para enganar uma moça, mentir pra ela uma vida inteira? Porque você é gay”, disse Ernani, de acordo com o relato do monge, que pediu para não ser identificado.
O monge afirma ainda que Ernani pegou uma de suas mãos e a levou até o próprio pênis, enquanto dizia a seguinte frase: “Você tá precisando disso aqui, de pinto”. Cenas como a descrita acima, ocorrida no ano de 2016, eram comuns, afirma o monge. Relatos colhidos pela reportagem com integrantes do mosteiro dão conta de que Ernani, padre da Igreja Católica desde 2009, violentou e assediou sexualmente pelo menos oito monges.
Ainda de acordo com os entrevistados, ele assediou moralmente outras 11 pessoas que viviam sob sua autoridade, por meio de humilhações e agressões verbais. Os crimes sexuais foram cometidos, de acordo com os relatos, pelo menos de 2011 até 2018, quando ele se afastou do mosteiro. As oito vítimas eram homens, com idades entre 20 a 43 anos quando o assédio sexual começou. Já das 11 pessoas que sofreram constrangimentos e agressões verbais, dez eram mulheres.
Em uma dinâmica de abuso de poder, o padre Ernani usava seu lugar de líder espiritual para conquistar a confiança dos integrantes do mosteiro, se colocava como “um pai” com a intenção de envolvê-los pelo lado afetivo e oferecia “sessões de psicanálise” em que as próprias vítimas eram os pacientes. Relatos dos crimes sexuais atribuídos a Ernani chegaram ao conhecimento da Igreja Católica por meio de investigações internas, mas o padre só foi afastado depois que ele mesmo pediu para sair do mosteiro, em agosto de 2018, alegando “cansaço” e “crise vocacional”.
Não consta que ele tenha recebido qualquer punição da Igreja Católica, que o enviou para uma casa de acolhimento para sacerdotes, por seis meses, com recursos do próprio mosteiro. Entre novembro de 2020, o UOL entrevistou um total de 40 pessoas para produzir esta reportagem e o documentário “Nosso Pai”, lançado hoje. As vítimas de assédio e violência sexual serão identificadas por numerais ao longo desta reportagem.
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