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- 24/12/2023
- redacao
Nosso destino é crescer na capacidade de amar. Aprender a amar é fazer o caminho de volta para casa.
Minha mãe foi a minha primeira experiência de amor. Meu pai a minha primeira experiência com a espiritualidade – a busca interior. Anos atrás lembro de contar ao meu pai um fato curioso: sempre encontrava borboletas amarelas pelo caminho, onde quer que eu estivesse, elas apareciam. E perguntei o que ele achava que poderia significar isso, e ele respondeu: “eu não sei, deixe que elas mesmas te contem”. Achei isso bonito e segui o conselho. Depois de alguns anos, o Mário Quintana, com sua poesia, me deu uma grande oportunidade de lição: “O segredo é não correr atrás das borboletas… é cuidar do jardim para que elas venham até você(…)”.
Então, entendi que não precisava sempre correr atrás das coisas como se estivesse numa guerra. Havia a possibilidade de alinhar-me internamente e abrir espaço para que as ‘coisas’ que desejava pudessem chegar até a mim, como num encontro, atraídas por ressonância de energia, puro magnetismo. Entender esse movimento, quase como uma dança de casal (eu e a vida) me tirou o peso do: “preciso me encontrar na vida”. A vida já me encontrou!
Eu mesma já falei e muitas vezes ouço pessoas sustentando intenções como: “Quero entrar o ano com chave de ouro” ou “Quero entrar o ano com o pé direito” ou “Desejo que o ano novo nos dê paz, amor, realizações, isso ou aquilo”. Estava aqui lembrando o que Platão falava sobre o
‘Homem de Ouro’, assim como os Alquimistas buscaram em seus estudos e pesquisas, transformar chumbo em ouro – a procura pela pedra filosofal – sendo entendida como o grau mais elevado de evolução de si mesmo. Então fiquei a pensar o quanto estamos de fato nos dedicando a fazer alquimia com a nossa própria vida e a encontrar a pedra filosofal que nos transforma, edifica, eleva. No fim das contas, penso que o Ouro, o qual Platão e os Alquimistas faziam referência é a própria maturidade da nossa consciência.
Certa vez, em um encontro com Deus, Neale Walsch, disse: “Somos todos levados à verdade para qual estamos prontos”. É verdade! A vida sempre nos responde de forma proporcional à nossa capacidade de compreensão. Encontre um lugar de relaxamento no seu Ser para ouvir a vida. Não é sempre que você tem que correr atrás dela, a vida caminha lado a lado e te entrega coisas conforme você também dá! Mas se você fica só querendo receber ou só correndo atrás da vida, você não recebe o que deseja e também não percebe o que a vida te entrega por todos os lados. Então ao invés de: “Eu quero que a vida me dê mais amor, quero que o Ano Novo me dê mais paz, mais alegrias”, te convido a pensar: “ok, quero que a vida me dê isso e aquilo, mas o quanto eu estou dando para a vida?”. Essa é a ressonância, a matemática exata da vida.
O filósofo e matemático Pitágoras, conhecido por sua sabedoria visionária, ao fim de todos os dias desafiava seus discípulos a mergulharem na auto-observação, a despertar para uma vida mais consciente, no sentido de refletir sobre as atitudes, ganhos, perdas, destacando a importância do autoconhecimento na moldagem da vida de cada. Pitágoras entendia que esses desafios não eram obstáculos, mas oportunidades de aprendizado. Esse convite à reflexão ecoa em nossas vidas, especialmente durante a temporada festiva, quando
somos convidados a celebrar o Natal e saudar o Ano Novo.
O Natal, por exemplo, não é só um fato histórico, mas também um fato psicológico, uma oportunidade de renovação, Renascimento. Em meio à correria das festividades, não podemos perder de vista o nosso dever de casa – estamos moldando a nossa jornada nesta vida, que é única e significativa, precisamos estar atentos e atentas. A transformação genuína começa ao reconhecer o seu mundo interior. Então, antes de pedir e escolher o que deseja que o Ano Novo lhe dê, não saia desse ano sem fazer um reflexão útil de tudo que viveu, sem aprender alguma coisa e sem se dispor a crescer no ano que vem.
Os frutos do presente encontram suas sementes e suas raízes no passado, e os frutos do futuro encontraram suas sementes e raízes no agora. Avalie se você tem as raízes necessárias daquilo que pretende frutificar no futuro. Como Terapeuta Sistêmica e Consteladora Familiar, especialista em Psicologia Perinatal, não desejo mais entrar com o pé direito, agora digo: “Quero começar o ano com o pé direito e esquerdo”, porque essa dupla é a própria sustentação primária, é o recurso basal para estar e atuar no mundo. O primeiro passo básico para iniciar qualquer coisa na sua vida é entrar os novos dias com essa integração das duas forças que vivem em você: pé direito, tomando a força que vem da mãe e toda linhagem dela. E pé esquerdo, tomando a força do pai e toda a linhagem dele.
Nós sonhamos com as flores e os frutos, mas não cuidamos das raízes. Viver de forma mais leve e consciente a nossa vida presente requer honrar as raízes, o passado: de onde você veio; a história que compõe sua vida até aqui; sua trajetória. E, porventura, perceber a própria incoerência a partir da pergunta a si mesmo: “O que estou pedindo para a vida e o que eu estou dando para ela?” A vida é puramente pedagógica!
Temos a tendência de nos identificar com o ‘papel’ da vítima: ‘a vida é uma merda’; ‘isso sempre acontece comigo’; ‘a culpa é do outro; ‘o país não tem jeito’; ‘a humanidade é mesmo cruel’; ‘por conta daquilo ou daquela pessoa é que eu não consigo’. São infinitos os nossos pensamentos sabotadores, mas na medida que assumimos a nossa responsabilidade diante daquilo que atraímos para a nossa vida, somos convidados a uma jornada introspectiva, onde o autoconhecimento se entrelaça com a consciência, e a busca incessante por nossa verdade, transborda em cada acontecimento de vida.
Se eu posso deixar alguma sugestão, que antes de tudo é um recado para mim mesma, digo: aprenda a cultivar a si mesmo, seus valores, suas virtudes. Resgate quem você é, retirando todas as máscaras que te levam a esquecer. Olha para o teu oceano, mergulha em profundidade dentro de si. Não fica na superfície tapando buracos com distrações que só diminuem você. Seja o que você espera, ofereça o que você quer receber, sobretudo, silencie e escute o que vibra em teu coração e transborde. Apenas seja e permita que a vida se manifeste através de você. Não é um caminho fácil, porque estamos acostumadas a lei da selva, mas digo: é totalmente possível.
Não há lugar mais importante para chegar a não ser em nós mesmos. Conectar, desfrutar e partilhar. E uma vez que reconhecemos a grandiosidade da vida que nos respira, não buscamos mais aprovação. Não há espaço para vergonha. Não há espaço para ser o que não
se é. Nesse momento a gente toma consciência que a gente só brilha na nossa verdade. E as verdades coexistem e se transformam o tempo todo. Quanto mais difícil for, mais necessário será conectar-se à fonte que tudo rege: o amor.
O amor é a nossa natureza. O espaço que abrimos em nossas vidas e as decisões que fazemos a cada instante podem ser baseadas no amor ou no medo. Escolha o amor. O medo vibra na escassez e na tristeza. Ele nos aprisiona. O amor vibra na abundância e na alegria. Ele nos liberta. Nosso destino é crescer na capacidade de amar. Aprender a amar é fazer o caminho de volta para casa. Caminhamos todos.
Rava Midlej Duque é terapeuta sistêmica, consteladora familiar e especialista em Psicologia Gestacional.
ravaduque@gmail.com
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